Transição capilar: Inovação no mercado de beleza
- compartisbe
- 29 de jul.
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Cosméticos sem resultado, profissionais que não entendiam nossas dores e desejos, e salões de beleza onde nos sentíamos totalmente inadequadas. Esse era o mercado de beleza para cabelos cacheados, crespos e ondulados há 20 anos atrás.
Até que algumas mulheres, cansadas de alisamentos e relaxamentos, resolveram parar de usar química e assumiram o cabelo natural, passando por um processo chamado de TRANSIÇÃO CAPILAR, que deu início a um movimento em massa, impulsionado pelo poder de mídia das plataformas e redes sociais.
A transição capilar não é fácil, nem confortável, mas transformou vidas. Várias mulheres aprenderam a amar e cuidar dos seus cabelos naturais, e isso revolucionou o mercado da beleza. A indústria passou a produzir cosméticos eficazes, que hoje atendem nossas dores (como ressecamento, frizz e porosidade) e também nossos desejos (como definição, brilho, maciez, volume ou falta dele). Profissionais foram capacitados e salões de beleza foram se especializando para atender as demandas desse público. E assim, pouco a pouco, o uso do cabelo natural tornou-se algo "normal" na nossa sociedade.
Hoje, há quem diz que a transição capilar foi uma moda, mas foi muito mais que isso, foi um processo de libertação de padrões sem precedentes na história dos cabelos naturais.
Nos anos 60, o movimento Black Power foi marcado pelo uso do cabelo crespo natural como símbolo de resistência, enfrentamento ao padrão estético eurocêntrico e orgulho racial. Foi um movimento político social importantíssimo para a comunidade negra.

Já nos anos 80, os cabelos volumosos foram fortemente influenciados pela moda, tanto ao ponto de fazer com que pessoas de cabelo liso procurassem por procedimentos capazes de cachear e ondular cabelos (técnica conhecida como permanente). Foi um movimento mais sobre expressão pessoal, influenciado pela música e cultura POP, onde a finalidade era se rebelar contra os padrões da época, chamar a atenção na moda e se destacar.
Mas a transição capilar que vivemos hoje é diferente, foi um ato de amor próprio e autoconhecimento. Não é sobre política, causa social ou moda como nos outros movimentos, é sobre descobrir como é seu cabelo natural e, a partir daí, construir sua própria definição de beleza, sem tendências ou padrões, até mesmo porque cada cabelo é único.
E, claro, precisamos evitar armadilhas como cobrar das pessoas a definição perfeita ou julgar aqueles que preferiram alisar novamente, porque a transição capilar não deve ser uma imposição ou padrão, é libertação para ser quem quiser e ter no mercado da beleza, cosméticos, profissionais e salões que atendam suas necessidades.
Ao contrário do movimento dos anos 80, hoje, o objetivo não é se destacar, mas sim normalizar as texturas, o volume e os hábitos. E, felizmente, já colhemos frutos desse esforço nas últimas gerações que, em sua maioria, não escondem, não julgam, não se sentem envergonhados pelo seu cabelo, muito pelo contrário, se sentem bonitos, aceitos, orgulhosos e, principalmente, livres.
Por: Camila Santos
Pesquisadora científica em práticas de beleza - Compartis.be
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